quinta-feira, 9 de junho de 2011

E a nossa cor da pele?

Dizem que desde pequena sou muito esperta, por este motivo fui pré-alfabetizada em casa e isso me rendeu a formatura no ABC com recentes seis anos. Na escola, era uma menina tímida, pacata, despercebida até. Mas algo me marcou naquela formatura da Alfabetização.
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Estava bem ansiosa como de costume para o dia da formatura, meu par era um colega de sala, branco e ainda vizinho de casa, Antônio. Na sala haviam poucos negros. Estudava em uma escola elitizada, uma das melhores de Imperatriz e que minha mãe fazia questão de pagar a custo de muito trabalho.

No penúltimo ensaio para o grande dia, uma colega de sala, Rafaela, também branca, chega à professora, tia Conceição, e diz que a mãe mandou avisar que ela não poderia de forma alguma fazer par com o Tiago. Segundo a menina, a mãe disse que a filha não participaria mais do baile de formatura se o par fosse o menino negro.

Acuada, mas sem pestanejar ou questionar, Tia Conceição, solucionou o problema e juntou as raças, branco com branco, negro com negro. Mesmo sem muita consciência do aquilo representava fiquei chocada e envergonhada com a situação. Mas no fim, gostei da troca, tinha mesmo mais simpatia pelo meu colega de cor.

Todo mundo da sala presenciou a cena e eu nunca mais me esqueci disso. E esses dias relembrando o meu recente passado, retornei a esse episódio na memória e fiquei com vontade de compartilhar. Na época, não me recordo de ter comentado isso com minha mãe, mas se tivesse feito, ela teria achado ruim a troca de par.

Não tenho a menor noção de que forma este episódio marcou a vida do Tiago, ou se isso lhe despertou alguma forma de indignação, ou mesmo uma consciência racial. Não sei.

O fato, é que hoje, 20 anos depois da formatura, esse recorte da minha vida, só serve pra ressaltar o quanto nossa sociedade ainda é a mesma, o quanto ainda é racista e o quanto o preconceito ainda é velado. Temos ainda, muito caminho a percorrer até nos alfabetizarmos e compreendermos de vez que todo mundo é igual. E a cor da pele?! Como na música, do Rappa: “A nossa cor da pele?! A nossa cor da pele?! Foda-se!”

3 comentários:

Hyonária disse...

Como se a cor da pele mostrasse o caráter e a personalidade de alguém...como se a cor da pele dissesse de cara que uma pessoa é mais ou menos merecedora...
Basta apenas que se olhe para trás e veremos que muitos heróis da história mundial tinham essa cor de pele (LINDAMENTE TINGIDA POR DEUS). Talvez toda essa hostilidade que tanta gente ("gente"?) sente em relação à cor da pele "marrom bombom" seja a força propulsora para tantos feitos e tantas glórias dessa raça tão presente.
E para os que se recusam a ver que eles somos nós e nós somos eles e que todos somos iguais: FODA-SE!!!

Pathy disse...

DEsconhecia esse lance aì.
Porem lembro q seu vestido era o + top da festa, o arranjo na cabeça sobre os cachinhos e uma franja q emoldurava o rosto da negra + linda dakele baile

Lília disse...

É minha querida, temos mesmo muitos caminhos à percorrer, toda essa coisa de comparação e de segregação continua!
O jeito é investirmos na educação dos nossos filhos para que eles saibam que todos são iguais e devem ser respeitados igualmente!

Tô com saudade de tu!