Imagem do filme "o Fabuloso Destino de Amelie Poulain" |
As lembranças. Ah, as lembranças, quem não as tem? E as lembranças da infância são talvez as que nos marcam pra todo sempre.
Na casa da BR 010 me fiz criança, menina.
Festejei São Lázaro. Comemorei as bodas de ouro dos avós. Me batizei. Corri pelos campos. Subi arvores. Caí de arvores. Tentei mudar o curso do rio.
Ali também vi o desespero da mãe que perde o filho, dos filhos que perdem os pais, dos netos que perdem os avós. E chorei as perdas, como chorei. Aprendi a perder desde pequena, mas aprendi a ganhar também.
Na casa da BR 010 roubei geladinhos, fiz expedições na chapada, roubei mangas das terras do vizinho e também tive medo do vizinho, o Japonês.
Dormi cedo com medo do caboré. Acordei com o cheiro de bolo. Mergulhei no brejo. Fui picada por maribondos. Contava os carros que passavam na BR. Namorei.
Na casa da BR 010 eu gritava, sorria, chorava e rezava. Corria atrás das galinhas. Caçava sapinos no brejo. Dividia comida com os primos. Moia cana. Ia pra missa aos domingos.
Hoje, a Casa da BR esta vazia, quase silenciosa e nostálgica. Fecho os olhos, viajo no tempo, a vejo debruçada na janela e ele sentado na cadeira, ambos observando o intenso movimento. Fazem falta.
É aí, nestas lembranças, que revisito meu passado, repenso o presente e planejo o futuro. Eis meu refúgio: a casa da BR 010. O endereço, bem ali no Maranhão, na BR que liga Belém a Brasília.