segunda-feira, 9 de março de 2009

Um sonho...
...a euforia, estupefação,
...as cortinas,
...a revelação.

Um desejo...
...a ansiedade, reprodução,
...a confusão,
...frenesi, gritos.

A curiosidade...
...o fazer-ser-notado,
...o calibre
...o tiro.

O som...
...a lamentação,
...a prova,
...o amor-de-mãe.

O transe...
...o susto,
...o ímpeto,
...a especulação.

A formação...
...a realidade,
...a dissolução da dúvida,
...a êfemera reflexão.

A reconstrução...
...os planos,
...o futuro,
...o ser-feliz-a-qualquer-custo.

O desfecho...
...a certeza volátil,
...o sono,
...a rotina inútil

Dormir, sonhar, acordar...
...a manipulação,
...máquinas,
...o descarte evidente.

Por Jonney Souza/BA

quinta-feira, 5 de março de 2009

Deserto

Em meu coração deserto
A solidão é o frio da noite
E o sol ardente do dia
A saudade é o vento
Que move essas dunas
Em que cada grão de areia
É um pensamento
E você?
Bem você foi aquela
Que no alto de meus delírios
Surgiu como um oásis
E desapareceu com uma miragem

Por Nilberto Martins/TO

terça-feira, 3 de março de 2009

Segunda-feira 13, a sorte está lançada

O despertador toca, levanta assustada, tropeça – um bom desastre pra começar o dia. Ops! O primeiro a tocar o chão foi o pé esquerdo, lascou-se. Eis a constatação que o dia seria daqueles no estilo punk.

Sente-se estranha, a calça está mais apertada que o normal, os seios doloridos, “mas nem está no tempo” ela pensa. Agitada, já começa a pensar no dia corrido que vem pela frente. O telefone toca e os problemas já aparecem. O tempo está literalmente nublado, começam a cair os primeiros pingos de chuva do longo dia gelado. Procura o guarda-chuva, não acha. Ela esqueceu de comprar um, depois que se deu o luxo de jogar o velho companheiro xadrez no lixo ao entrar no shopping, azar. É a vingança do guarda-chuva, pensa frustrada.

O tic-tac do relógio irrita. A hora passa. Está atrasada. Resolve ir assim mesmo, pega um pano qualquer, se embrulha, liga para um táxi... moto táxi. Agora ela adentra no recinto, ensopada, na mira dos demais colegas.

A sala pequena sucumbe ao barulho enaltecedor do telefone:

- “Alô, me desculpe cheguei atrasada por causa da chuva... Ah! Tudo bem vou providenciar isso ainda pela manhã”.

Abre a caixa de e-mail lotada e começa a selecionar quem merece resposta. Desiste. Lê o jornal, a manchete é notícia ruim. Vai pro horóscopo na expectativa de algo que amenize o ânimo. Engana-se. Justo naquele dia, a coluna não foi publicada.

A dor de cabeça começa. Escreve daqui, atende telefone dali, realiza alguns atendimentos presenciais, olha pro relógio: 10 horas. “Putz e essa porra de tempo que não passa”, esbraveja sem mencionar uma única palavra.

O compromisso está marcado para as 12h.

11h55 alguém liga: - “Por favor, preciso de uma entrevista com fulano de tal”.

Consegue ir embora às 12h45. O almoço de hoje será a barra de cereal murcha que há duas semanas está esquecida em sua bolsa. Ela mastiga sem vontade, enquanto caminha, o alimento cheio de proteínas e nutrientes, porém com gosto de ração. Aliás, é uma ração.

O celular toca, número desconhecido: - “Senhora, verificamos um débito em seu nome no valor de...” tu, tu, tu...

Desliga e começa a se preocupar: - “Caramba, como vou arrumar grana pra pagar isso? Na próxima passo apenas uma vez na fila dos pobres antes de vir pra cá... Puta que pariu!! Seu desgraçado”! Um carro passa em alta velocidade numa poça d'água.

Chega ao consultório. – “Desculpe Senhora, temos tolerância de apenas 20 minutos, está atrasada a 50. Não podemos atendê-la hoje”.

Respira e inspira 10 vezes. Finge acalmar-se.

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Repentinamente, o tempo muda. Nada mais normal. O sol começa a aparecer e a esperança de que o dia termine bem melhora.

Volta pro escritório. Sem graça. Dor de cabeça. Sente uma angústia, vontade de ir pra casa e dormir até o próximo dia. Na primeira hora recebe uma bronca. Hoje é o dia de engolir 1234 sapos. Já se foram 234, desespera-se.

O expediente termina. A fome aumenta. Procura na bolsa e não encontra nenhum resquício de dinheiro. Vai pra aula de inglês. A voz irritante da colega e os questionamentos idiotas da outra fazem perder a paciência. Retira-se, dá um volta em frente ao prédio. Simula gritar. Bate na cabeça. Olha pro relógio: 19h25. – “Caramba! Ai Deus, alivia pra mim só hoje”.

Vai ao banheiro e reconhece uma espinha na ponta do nariz. Justo na ponta. Sente-se feia. Volta pra sala, não olha pra ninguém. Senta e mastiga um chiclete de canela – o seu preferido. Desconcentrada não consegue acompanhar. Desiste. Hoje não é o dia. Vai embora pra casa.

O vai-e-vem dos carros, as pessoas sorridentes. Começa a pensar na possibilidade de largar tudo e tentar a vida em outro lugar. O celular toca. É o ex-namorado. Impaciente com a conversa de sempre desliga. Essa foi demais. Não segura e começa a chorar. Chora, chora. Liga o mp3. Quer dizer, não liga. Estragou. Arremessa ao chão. Lembra que não pode ser ingrata. O dia está assim por culpa do guarda-chuva. Foi mandinga dele. Covardia.

Entra em casa. Não conversa com ninguém. Ah! Ela mora sozinha, não tem com quem conversar. Sente-se só. Lembra que o resultado do concurso que fez sairá em breve. Liga o computador. Demora cerca de 20 minutos pra funcionar. Acessa a internet, ficou em quarto lugar. Só tinha uma vaga. O rosto cresce e as lágrimas caem em disparada, não consegue parar. Desiste do dia. Toma banho e deita. Recebe uma mensagem: “Recarregue seu celular e concorra a um Peugeot 507”.

Tenta inutilmente voltar pro sono. A cabeça funciona a 120km/h. A terapeuta ensinou uma técnica. Começa a repetir uma frase, inúmeras vezes, desconcentra-se: “E seu eu ficar doida de tanto repetir essa frase?!”

- “Mais doida não pode ser”! Grita o vizinho do andar de cima, reclamando com a mulher.

Enfim ela adormece. A semana está só começando...