sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

E por falar em cultura, também falo de educação

Outro dia fui questionada sobre a questão da cultura, da cultura produzida para a elite, da boa música, das peças teatrais e da falta de acesso da maioria – pobre – a estes bens culturais. A discussão sobre a “pobreza cultural” existente em nosso país surgiu em uma página de relacionamentos (leia-se: orkut).

Um amigo inconformado com o pensamento de alguns, deixou o apelido de ‘monossilábico’ de lado e soltou o verbo:

“- disse que a MPB que se diz popular, não é pro povo. Pelo preço que se paga pra ouvir, pelas letras que passam mensagens interessantes, mas descompromissadas em se comunicar com o povo tal qual ele se apresenta ("ignorantes", mal-escolarizados, analfabetos funcionais) não é qualquer brasileiro que consegue entender o que Caetano fala, por exemplo.”

De algum lugar do Brasil, o outro retrucou:

“- bom sobre a questão de algumas pessoas não terem capacidade mental pra entender o que a boa música quer passar aí a culpa não é dos músicos com um intelecto desenvolvido! A culpa é do povão q prefere viver atolado na merda, ao em vez de tentar evoluir a suas mentes. O argumento da falta de acesso a uma boa leitura e uma boa musica, não cola não! Já que todas estas pessoas (palas-retas) possuem orkut, eles poderiam além de entrar na internet pra mexer no orkut, entrar também pra pesquisar sobre qualquer música, livro e etc!!! O que falta é o interesse por parte deles! Já cansei de ver no Fantástico, no quadro Central da Periferia as favelas lotadas de lan house, e uma boa parte destas lan, sendo gratuitas pra galera! Local pra pesquisar tem oportunidade também!”

Fora das discussões cibernéticas e após o ctrl c + ctrl v do amigo para me mostrar a tal discussão, comecei a pensar, o que nem é novidade, mas é cada vez mais evidente o quão inseparável é a educação e a cultura. Ambas andam, se topam e atropelam.

O povão está sim condicionado a uma educação que não apresenta o fomento e interesse pelas artes, música erudita, teatros, cinemas, entre outros. E ao contrário do que muitos pensam, enfatizam, gritam, estes bens, estão e são direcionados para quem tem poder aquisitivo. (É claro que toda regra tem sua exceção, mas não entrarei neste assunto por agora).

Jonney Souza, que se denomina, acredito que por ironia: monossilábico, faz um comentário importante: - um ingresso pra o show de Chico Buarque é mais caro que uma cesta básica. E nem é surpresa dizer, a classe social menos provida de dinheiro para investir em lazer prefere alimentar o corpo que a alma, nada mais sensato.

A rede pública de ensino, infelizmente, não incentiva o desenvolvimento do intelecto, do pensar e agir, incentiva à acomodação.

Um governo que não valoriza a educação, não tem interesse em formar cidadãos; não tem interesse em remunerar dignamente um professor, em valorizá-lo. O professor já vai pra sala de aula achando tudo um saco, já vai pensando na miséria do salário que tem pra receber e nas contas que tem a pagar, poucos são os que se interessam de fato em formar os alunos pra serem sujeitos atuantes na sociedade.

Enquanto isso no cerrado...
Para exemplificar nem preciso ir tão longe, vou retirá-lo aqui mesmo do Tocantins. Nos últimos anos em que participei do Salão do Livro (evento que reúne todos os anos grandes editoras, espetáculos gratuitos, palestras, entre outros) comecei a observar o público que participa e freqüenta o tal salão. É conveniente ressaltar que as escolas levam seus alunos para participar do evento, que por sinal é disputadíssimo. Mas o público mesmo, aquele que compra que adquire obras literárias, de auto-ajuda, é a classe A e alguns reles (como eu) que mesmo sem grana, mas que possuem interesse em absorver 'cultura' de alguma forma.

Vejo o ‘povão’ freqüentar o Salão do Livro quando palestrantes como o MV Bill vem lançar algum livro e falar da periferia e da vida como ela é dos lados de lá, pelas bandas do Sudeste. E ainda assim, concorrem e dividem o espaço com o já mencionado público A.

E sabe por que o povão assiste o MV Bill? Porque se identificam, porque vivem em realidades comuns, sem a apartheid social a qual estão acostumados, é para eles o exemplo de homem-negro-pobre que deu um salto na vida.

Agora voltando para o quesito educação, também tenho observado neste mesmo Salão, o comportamento dos professores. O Governo do Estado doa a estes uma espécie de vale-livros para capacitar os mestres. O que vi, na última edição em 2008: professores comprando livros de auto-ajuda ou trocando o vale por dinheiro mesmo. Uma atitude vergonhosa, mas paradoxalmente compreensível.

Daí é concordar com a frase do Jonney Souza: não se aprende pra aprender, mas pra ocupar um posto de trabalho. Vive-se pra trabalhar, e trabalha-se pra viver.

Por Flávia Q.

I mundo

queria abraçar o mundo todo
rodopiá-lo

mas meu abraço nem se cabe

me perco
nem percebo
fico pasmo,

perplexo, enfeitiçado

e o mundo vai

r
o
d
a
n
d
o

me cambaleando

e eu me embaraçando

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

olho no retrato

essa sou eu?

risadas, olhares, facetas

frases e (e) feitos inacabados

desperdiçados

onde me perdi de mim?

olho no retrato

observo a ondulação da vida

arremesso

abismo

estilhaço

em frangalhos