quarta-feira, 29 de junho de 2011

“O Tocantins precisa de um ritmo musical!” Será?

Crédito: Lia Mara/Secom
“O Tocantins precisa ter um ritmo musical. A Bahia tem o axé, o Pará tem o calipso”. Esta afirmação é da secretária estadual de Cultura do Tocantins, Kátia Rocha, durante abertura do Fórum Estadual de Cultura realizado na noite desta terça-feira, 28 de junho.
 
Mas será mesmo que a identidade cultural de um lugar, de um Estado e de um país, é mesmo formada apenas por um ritmo?

O Tocantins pelo seu contexto histórico e cultural possui uma diversidade de ritmos, sons, cores, saberes e fazeres. Nosso Estado precisa mesmo é de ações e políticas públicas culturais.

Um Estado não é reconhecido culturalmente apenas por sua capacidade em produzir artistas ou ritmos, muitos menos seus valores estão ligados a apenas isso. A cultura da Bahia não é o Axé, assim como a cultura do Pará não é o calipso. A Cultura de um lugar vai além do “fazer artístico”, passa por quem a gente é, por nossa identidade e deságua naquilo que nos forma socialmente.

A gestão da cultura deve ser realizada em todas as suas dimensões e transversalidades. Além de fomentar e promover as produções artísticas é necessário e pertinente promover a preservação do patrimônio cultural de nossa gente, de nossa história, é preciso garantir que indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais continuem com suas atividades culturais apoiadas por políticas públicas e não apenas por ações governamentais.

Considero a ação de realizar o Fórum muito válida, é preciso sim discutir a cultura em nosso Estado e ouvir a classe artística. Mas é lamentável que gestores culturais tratem a cultura com tamanha mesquinhez, apenas pelo viés das artes, sejam elas musicais, cênicas ou visuais, quando a CULTURA tem um leque muito maior.

O Fórum
Esta é a quarta e última etapa do Fórum Estadual de Cultura que também aconteceu nos municípios de Araguaína, Gurupi e Dianópolis. Durante o evento em Palmas, foi assinado o acordo de cooperação federativa entre o Ministério da Cultura e a Secretaria Estadual de Cultura visando o desenvolvimento da cultura em nosso Estado por meio da implantação do Sistema Nacional de Cultura. Leia mais aqui.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

E a nossa cor da pele?

Dizem que desde pequena sou muito esperta, por este motivo fui pré-alfabetizada em casa e isso me rendeu a formatura no ABC com recentes seis anos. Na escola, era uma menina tímida, pacata, despercebida até. Mas algo me marcou naquela formatura da Alfabetização.
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Estava bem ansiosa como de costume para o dia da formatura, meu par era um colega de sala, branco e ainda vizinho de casa, Antônio. Na sala haviam poucos negros. Estudava em uma escola elitizada, uma das melhores de Imperatriz e que minha mãe fazia questão de pagar a custo de muito trabalho.

No penúltimo ensaio para o grande dia, uma colega de sala, Rafaela, também branca, chega à professora, tia Conceição, e diz que a mãe mandou avisar que ela não poderia de forma alguma fazer par com o Tiago. Segundo a menina, a mãe disse que a filha não participaria mais do baile de formatura se o par fosse o menino negro.

Acuada, mas sem pestanejar ou questionar, Tia Conceição, solucionou o problema e juntou as raças, branco com branco, negro com negro. Mesmo sem muita consciência do aquilo representava fiquei chocada e envergonhada com a situação. Mas no fim, gostei da troca, tinha mesmo mais simpatia pelo meu colega de cor.

Todo mundo da sala presenciou a cena e eu nunca mais me esqueci disso. E esses dias relembrando o meu recente passado, retornei a esse episódio na memória e fiquei com vontade de compartilhar. Na época, não me recordo de ter comentado isso com minha mãe, mas se tivesse feito, ela teria achado ruim a troca de par.

Não tenho a menor noção de que forma este episódio marcou a vida do Tiago, ou se isso lhe despertou alguma forma de indignação, ou mesmo uma consciência racial. Não sei.

O fato, é que hoje, 20 anos depois da formatura, esse recorte da minha vida, só serve pra ressaltar o quanto nossa sociedade ainda é a mesma, o quanto ainda é racista e o quanto o preconceito ainda é velado. Temos ainda, muito caminho a percorrer até nos alfabetizarmos e compreendermos de vez que todo mundo é igual. E a cor da pele?! Como na música, do Rappa: “A nossa cor da pele?! A nossa cor da pele?! Foda-se!”